terça-feira, 6 de janeiro de 2009

NOVOS DIÁLOGOS

Não gosto muito de festa de réveillon. Sempre me escondo na minha caverna durante a passagem de ano. Dessa vez não foi diferente: fiquei no meu cafofo vendo o capítulo de A Favorita, prestando muita atenção aos diálogos. Aproveitei também para aprimorar os ensinamentos que recebi de Sócrates. Treinei muito com a parede o meu passe de calcanhar. Comi um “platão” (deixe-me que eu me divirta com o meu nome) de lentilha. À meia-noite, pude observar, sem prazer, a queima de fogos na Faixa de Gaza. Mas o motivo mesmo do meu recolhimento foi a minha paixão platônica por Carla Bruni. Até hoje não sei se ela é conceito ou realidade. Se pudesse tocá-la, eu elucidaria essa questão. Pensei até no que diria para o Nicolas (nanico, em grego) liberar a sua amada para viver um período como minha mulher de Atenas. Argumentaria que meu interesse seria puramente filosófico. Que desejo Carla enquanto ser. Meu estudo teria um cunho ontológico (na verdade, seria antológico). Diria que preciso muito dela para reescrever uma das obras fundamentais da filosofia ocidental: O Banquete de Platão. E que, no tempo livre, ela poderia visitar instituições de caridade, abraçar crianças pobres e freqüentar a minha academia. Quanto à Sarkozy, valorizaria o seu gesto de renúncia do indivíduo em prol da comunidade – no caso eu – e, com ela aos meus braços, jogaria para o alto a filosofia. Ficaria acorrentado a ela, em minha caverna, olhando a projeção de nossa dança na parede. E, assim, a humanidade ganharia mais um diálogo de Platão:
– Platão?
– Sim?
– A minha intenção é perguntar-lhe qual é a virtude própria da sua arte, e que arte é essa que professa e que ensina.
– Pelo amor de Zeus, Carla, papo cabeça a essa hora? Vá despindo a sua metafísica e depois a gente conversa.